A Bíblia e a Juventude
A palavra de Deus "Bíblia" tem uma visão positiva da juventude. São João a elogia como vencedora do maligno e porque ela é capaz de acolher com firmeza o que vem do Senhor. Antes do apóstolo, o próprio Jesus soube ler, no coração de um jovem, imensas possibilidades de doação: “Ele o amou” e o deixou falar e escutou uma pergunta que dificilmente se encontra nos lábios dos adultos: “O que devo fazer para conseguir a vida eterna?”. Falar dos jovens é fácil, difícil é deixar que eles falem. Se eles tivessem mais compreensão, por parte dos adultos, com certeza a humanidade seria mais feliz.
Os jovens, actualmente, enfrentam muitos desafios, não só quando se trata de fazer o discernimento da vocação, mas também quando, conscientemente, se dispõem a segui-la. Estes desafios vocacionais são de tal envergadura que, também hoje, as palavras de Jesus Cristo proferidas há mais de dois mil anos, referindo-se à escassez de operários na vinha do Senhor, continuam autênticas. Além dos desafios encontrados na vocação sacerdotal e religiosa, a situação não é melhor no campo do matrimónio. Não é difícil achar pessoas que, casadas de pouco, e talvez no mesmo dia do casamento, garantem que em breve se separarão. Estes “profetas de mau agouro”, que podemos chamar de pessimistas, indivíduos que desejam o mal ou são invejosos, seja lá como for, estão mostrando de uma forma ou de outra qual a situação reinante na vida matrimonial de hoje.
Este fato, contudo, não nos deve levar ao desespero; antes, para nós que cremos, deve encorajar-nos a nunca deixar de rezar por todas as vocações.
Os desafios
1. O primeiro desafio que os jovens de hoje encontram no campo vocacional é a dificuldade de compreender o que significa “vocação”. Ficamos surpreendidos ao constatar os variados modos como é usado o termo vocação. Os jovens não poderão discernir sua verdadeira vocação, se não conhecerem o significado do termo, como é apresentado e ensinado pela Igreja. Talvez tivesse razão o filósofo que escreveu: “Uma das coisas difíceis na vida é descobrir o significado das coisas que são claras”.
2. Muitos jovens não vêem nenhuma diferença de significado entre os termos “vocação” e “carreira” (profissão); por isso, usam-nos como se fossem sinónimos. Não há que maravilhar-se, portanto, se chegam despreparados no momento de abraçar uma vocação por toda a vida. Por exemplo, muitos jovens consideram a vocação como um sucesso pessoal, e não receiam dizer qual o significado que eles lhe dão, prescindindo das palavras de Deus dirigidas ao profeta Jeremias: “Antes que fosses formado no seio de tua mãe, eu te conheci e te consagrei” (Jr 1,5). Palavras que fazem eco às de Jesus: “Não fostes vós a escolher-me, eu é que vos escolhi e vos constituí, para irdes e produzirdes fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16).
3. Outro desafio: falta de compreensão e de interesse em assumir as exigências e responsabilidades de uma vocação específica. Os jovens de hoje não dedicam muito tempo em reflectir nos compromissos de uma vocação específica à qual foram chamados. Exemplificando: até que ponto os jovens que se sentem chamados ao matrimónio compreendem a profundidade do sacrifício que deverão fazer? Será que compreendem a necessidade da autodisciplina, das generosidades recíprocas que devem ter, da abstinência ocasional que devem praticar? Além disso, muitos não mostram o mínimo interesse em melhorar o próprio conhecimento acerca das verdades que a Igreja ensina sobre a santidade do matrimónio. Normalmente, esperam até o último momento, depois frequentam o curso, que embora o considerem uma necessidade, para eles se torna uma simples formalidade.
Como podem, pois, conhecer as posições doutrinais da Igreja a respeito de anticoncepção e anticoncepcionais, preservativos, aborto, divórcio e outros ensinamentos referentes ao matrimónio?
Pelo fato de não compreenderem e não vivenciarem estes ensinamentos muito antes da realização do casamento, muitos jovens fazem o juramento do matrimónio perante o altar, mas continuam a usar toda espécie de anticoncepcionais; este comportamento os leva depois a considerar que o seu matrimónio não é completo enquanto não nasce um filho, e que, portanto, muitos casos de divórcio são justificáveis e recomendáveis. Parece que esqueceram as sábias palavras de Jesus: “Quem de vós, querendo edificar uma torre, antes não se senta para calcular os gastos, que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? Para que, depois que tiver lançado os alicerces, e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pôde terminar!” (Lc 14,28-30).
O mesmo se pode dizer da vocação ao sacerdócio e à vida religiosa. Embora o tempo de preparação ao sacerdócio seja mais longo, um bom número dos chamados só demonstra interesse para com os deveres do sacerdócio quando começa o ano de formação; outros, pior ainda, só no começo da filosofia... É um erro! Os jovens deveriam adquirir o hábito de estudar melhor os requisitos e as responsabilidades da vocação o mais cedo possível. Por que são tão desejosos de crescer no conhecimento em outros campos do saber e não no da vocação, que é o mais importante, melhor dizendo, indispensável? Isto equivale a ser perito no conhecimento dos aspectos do céu, mas ser incapaz de discernir os sinais dos tempos (cf. Mt 16,2-3).
4. A vida livre também impede aos jovens de fazerem o discernimento da vocação. Os jovens que não têm autocontrole e se abandonam a uma vida imoral, dificilmente podem ouvir o chamado divino. Consequentemente, temos jovens que vivem dupla vida: por um lado, vivem como pagãos a semana inteira; por outro, nunca faltam à Missa dominical. Para tais jovens, o Cristianismo consiste apenas na Missa dominical. Ora, para estes indivíduos é difícil enfrentar seriamente o problema da vocação.
Mas, o que se esconde por trás desta fachada? Esconde-se sobretudo uma concepção errada e o uso não correto da tecnologia avançada de informação do mundo globalizado. Os jovens desperdiçam muito tempo em coisas tolas e triviais, que lhes impedem de cultivar os valores cristãos. Tudo quanto vêem na televisão torna-se para eles um atractivo a imitar. Carecem de uma apropriada formação familiar e agem de maneira dispersiva, à semelhança de ovelhas sem pastor.
Não quero dizer com isso que os jovens chamados a seguir uns vocação sejam apenas os que vivem uma vida moral equilibrada; de fato, do tempo de Cristo até hoje, há casos de pessoas que foram chamadas quando ainda viviam no pecado; cito apenas dois exemplos: São Mateus (cf. Mt 9,9-13) e São Paulo (cf. At 9,1-20). Estes, porém, se converteram antes de seguir a sua vocação. E nós, ajudamos os nossos jovens a se converterem antes de darem uma resposta à vocação?
5. Outro desafio: a intromissão dos pais. É um fato que não deve ser ignorado, mas também não se lhe deve dar muito peso. Alguns pais desencorajam seus filhos quando se trata de seguir alguma vocação, especialmente a vocação sacerdotal. Seu profundo desejo de ter netos, os obriga a dizer a seus filhos que pensem duas vezes, antes de responder a uma vocação. No contexto africano, visto que os pais têm grande influência e a eles cabe dizer a última palavra sobre as decisões de seus filhos, este desafio se torna realmente difícil de ser superado.
6. Outro desafio nasce da desilusão provocada por aqueles que não são fiéis à sua vocação. O grande número de matrimónios rompidos e de padres escandalosos exerce um impacto negativo na vida dos jovens e, consequentemente, na escolha da vocação. Este impacto tem duplo aspecto: primeiro, deixa os jovens incertos quanto a seguir a mesma estrada; segundo, leva-os a formar esta idéia: o exemplo que vêem em seus predecessores é a única senda da vida; agir de maneira diferente seria inútil. Esta atitude, contudo, é uma fraqueza de jovens; de fato, eles podem sempre agir de maneira bem melhor, embora seguindo a mesma vocação. Podem sempre testemunhar, com palavras e fatos, que é possível viver uma vida exemplar.
7. Os que são chamados ao matrimónio encontram um grande desafio no flagelo da AIDS. Os jovens têm medo e receiam ser infeccionados pela AIDS. Este fato os faz submeter-se voluntariamente ao exame de sangue antes do casamento.
8. O pulular de seitas cristãs do nosso tempo constitui outro desafio. A grande variedade de seitas exerce um influxo negativo sobre a escolha da vocação. Antes de tudo porque são apresentadas continuamente novas verdades, que contrastam ou contradizem a fé católica no campo das vocações, especialmente da vocação sacerdotal. Muitos jovens católicos, com pouca formação, ficam confusos, sem esperança. Depois, há uma contraposição entre os jovens católicos e as seitas cristãs, que é negativa, por esta razão: o ensinamento católico enfatiza pontos diferentes dos que são ensinados pelas seitas. Tomemos o exemplo de uma jovem mulher católica, solteira, que convive com um homem casado e que segue uma destas novas seitas: será que os seguidores desta seita consideram do mesmo modo que nós, católicos, o comportamento pecaminoso? Não, certamente. Embora admitamos que muitas seitas condenam o adultério e a fornicação, a Igreja Católica, entretanto, se opõe mais fortemente e impõe penalidades para os que coabitam em semelhante situação. Em conclusão: aquela jovem mulher católica encontrará dificuldade em seguir sua vocação no matrimónio.
9. O último desafio, mas não o menor, surge dos conterrâneos, dos coetâneos e da sociedade em que vivemos. Muitos jovens não respondem à sua vocação, especialmente à vocação sacerdotal, por temer a opinião dos outros. Hoje, os jovens que falam de sua vocação ao sacerdócio, ou da vocação à vida religiosa, correm o risco de ser ridicularizados e desprezados. Visto que os conceitos de secularização e de materialismo penetram na mente de muitos, a vocação à vida religiosa é entendida de modo errado e alguns a consideram ultrapassada, fora de moda, no mundo globalizado em que vivemos! Estando as coisas neste pé, é preciso que os jovens que aspiram ao sacerdócio ou à vida religiosa tenham a possibilidade de receber uma formação adequada acerca do que é objectivamente justo.
Os jovens devem ouvir com humildade o chamado de Deus. Antes de tudo, devem decidir-se a viver vida espiritual, porque não há vocação que não exija santidade. Devem rezar intensamente, porque somente Deus é o alfa e o ómega, a fonte de toda vocação, como afirma a carta aos Hebreus: “Ninguém se apropria desta honra; recebe-a somente aquele que é chamado por Deus, como Aarão” (Hb 5,4).
2. O Cristo dos cristãos é concreto, humano, é pessoa histórica: é Jesus de Nazaré (cf. At 22,7-8). Neste sentido, o Cristianismo baseia-se na história. A fé cristã é uma fé histórica. Temos a impressão de que os jovens deixam a Igreja porque lhes parece não encontrar nela este Jesus; eles o procuram por toda parte e, consequentemente, são atraídos por qualquer seita religiosa que mais fale dele. A lista dos que ignoram a própria Igreja mas amam o seu Cristo é discretamente longa. Estes jovens, muitas vezes, protestam contra o Cristo comum, de reboco, que se encontra nas Igrejas, mas que não sente dor e não sofre.
3. O objectivo que a Igreja deveria procurar atingir não é o desprezo das tendências destas seitas religiosas, e sim formar um ministério cristão independente e aberto a todos os homens que procuram a Deus. Devemos fazer isso com espírito de abertura mental que supere todo paternalismo de compromisso, com um espírito que substitua a crítica que fazemos aos outros pela crítica feita a nós mesmos, aceitando ao mesmo tempo tudo o que é positivo. Em resumo, devemos lembrar-nos de que tratamos com pessoas que crêem e não com pagãos. Por isso, não deve haver nenhum contraste fútil ou estéril que possa aparecer como superioridade do Cristianismo. Deveria ser um encontro genuíno e produtivo no qual estas buscas pudessem produzir o melhor e mais profundo resultado. Não deveria haver absolutismo arrogante que não aceita nenhum outro direito, nem eclectismo frágil que aceita um pouco de tudo, mas um universalismo inato católico, que proclama a catolicidade, não como exclusivismo, mas como unicidade.
4. Finalmente, é muito notada a falta de uma espiritualidade cristã para os jovens, profundamente enraizada na tradição da Igreja, que apresente uma visão cristã da vida, capaz de formar os jovens de hoje que vão crescendo em maturidade.
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